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Franquias de contabilidade tornam-se opção de empreendedorismo

Redes de escritórios que oferecem serviços contábeis e tributários estão expandindo suas operações no Brasil em cima de um modelo de negócio que, até pouco tempo atrás, nunca tinha sido usado: o modelo de franquias. Aliadas à tecnologia, à virtualização da contabilidade e à demanda latente por serviços de controladoria e gestão financeira, o franchise contábil cresce em números significativos, embora ainda esteja longe de alcançar patamares como os da rede alimentação e de cosméticos, por exemplo.

Negócios corporativos

Edição impressa de 07/08/2019. Alterada em 07/08 às 08h49min

Franquias de contabilidade tornam-se opção de empreendedorismo

Modelo baseado chega à profissão contábil baseada em tecnologias de automação

Modelo baseado chega à profissão contábil baseada em tecnologias de automação


/Mindandi via Freepik/divulgação/jc
Pedro Carrizo
Redes de escritórios que oferecem serviços contábeis e tributários estão expandindo suas operações no Brasil em cima de um modelo de negócio que, até pouco tempo atrás, nunca tinha sido usado: o modelo de franquias. Aliadas à tecnologia, à virtualização da contabilidade e à demanda latente por serviços de controladoria e gestão financeira, o franchise contábil cresce em números significativos, embora ainda esteja longe de alcançar patamares como os da rede alimentação e de cosméticos, por exemplo.
Segundo a Associação Brasileira de Franchise (ABF), os serviços contábeis enquadram-se na modalidade de microfranquias, negócios com investimento inicial de até R$ 90 mil, que cresceu 8% em 2018, e tende a seguir crescendo segundo perspectivas da instituição.
O fenômeno, porém, é recente. De acordo com a ABF, a primeira franquia de contabilidade surgiu em 2011 e foi o escritório NTW Contabilidade e Gestão Empresarial. Enquadradas no segmento de Serviços e outros negócios, atualmente, a associação não sabe informar quantas franquias de contabilidade atuam no Brasil, mas, conforme explica o diretor da Regional Sul da ABF, Antonio Carlos Diel, o franchise contábil no Brasil já é expressivo e impulsionado, principalmente pela tecnologia. A participação desse segmento para o bolo total das franquias brasileiras é de pouco mais de 7%, seguindo a mesma lógica na região Sul.
Na lista de associadas da ABF há apenas três franquias do segmento contábil: NTW Contabilidade Gestão Empresarial; CF Contabilidade; e Vers Contabilidade. O número real de franquias que oferecem esse serviço, porém, é bem maior. "No caso da contabilidade, que é muito normativa e burocrática, a tecnologia tem automatizado o processo, o que permite a padronização e, por consequência, serviços mais baratos para o cliente lá na ponta" explica Diel. Além disso, como o processamento de informações por parte do escritório matriz acaba normalmente abastecendo um banco de dados da rede de franquias, com softwares especializados, o empreendedor que decide ser franqueado neste nicho já tem um know how que não teria em outra modalidade de negócio, acrescenta o diretor da Regional Sul da ABF.
De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), são cerca de 65 mil escritórios de contabilidade em operação no Brasil. Para Diógenes Nunes, diretor de franquias Vers Contabilidade, rede mineira com unidade em Porto Alegre, tem três maneiras desses escritórios crescerem: de forma própria, que é mais difícil; de forma on-line, em que não é necessário espaço físico; ou de forma a se tornar um rede. Nesse caso, o melhor caminho é através de uma rede de franquias, explica o diretor de franquias Vers Contabilidade, que franqueou-se no início de 2018 e já possui 46 unidades em território nacional.
O modelo do franchise contábil, porém, se diferencia do modelo tradicional de franquias. Baseado em tecnologia e processamento de dados, as redes de escritórios contábeis, muitas vezes, centralizam todas as demandas processuais na sede da empresa, sendo função do franqueador apenas a captação de clientes, consultoria e atendimento. Ou seja, não é preciso ser necessariamente contador para empreender nas franquias de contabilidade.
Isso se aplica também na lógica de trabalho da Vers. Para Nunes, o grande problema dos escritórios passa pelo custo alto em razão da folha de pagamento, o grau alto de risco tributário, já que, se errar o cálculo, tem que pagar a multa, e também o custo da locação de um espaço físico. "Por isso, fizemos a operação concentrada em Minas Gerais. O franqueado vende os contratos e faz a consultoria nas empresas, todo mês tem que visitar os clientes, podendo trabalhar em um coworking, o que reduzirá seus custos", explica. O investimento na empresa gira entre R$ 14.900,00 e R$ 25.900,00.
Para Edilson Junior, fundador da CF Contabilidade, rede carioca que começou suas operações em 2015 e, atualmente, é a segunda maior rede de franquias de contabilidade do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Franchise, com 52 unidades, o franchise contábil tem relação direta, além da tecnologia, com o novo perfil do profissional contábil.
"A transição do contador tradicional para o on-line tem sido fundamental para a mudança no comportamento do mercado. Há 20 anos, pouca gente cogitava uma franquia de contabilidade. Isso é uma reformulação de habilidades e de mindset do profissional contábil", ressalta o fundador da CF Contabilidade, rede cujo investimento pode chegar em até R$ 18 mil.
Ambos franqueadores, Edilson Junior e Nunes, consideram que, com essa mudança no perfil do profissional contábil, o advento da inserção de tecnologias de automação no setor e a popularização do franchise vão influenciar ainda mais para o ponto de virada da contabilidade. Isso se materializa, segundo os empresários, em um profissional muito mais estratégico, responsável mais pela parte de consultoria e gestão financeira do que propriamente pelos os cálculos administrativos - embora essa função ainda não esteja totalmente extinta, mesmo com os softwares especializados e o advento da Inteligência Artificial.

Grupo gaúcho é pioneiro na modalidade no segmento de revisão tributária

Fragoso destaca a capacidade de escalonar a forma de atuação

Fragoso destaca a capacidade de escalonar a forma de atuação


MARCO QUINTANA/JC
Primeira empresa gaúcha a instalar o modelo de franchise no segmento de revisão tributária e de contabilidade, o Grupo Studio é, atualmente, um dos principais franqueadores contábeis do mercado brasileiro, com 241 escritórios em diferentes de nichos de atuação e cerca de 5 mil clientes atendidos - clientes como Natura e Ambev.
No grupo, há três redes de serviço que abrangem demandas contábeis: Studio Fiscal, E-fiscal e E-contábil. Enquanto as duas primeiras são voltadas à revisão tributária para empresas, sendo a Studio Fiscal para empresas de médio e grande portes e a E-fiscal para empresas de pequeno porte, a E-contábil é uma rede voltada para a contabilidade tradicional: o acompanhamento financeiro mês a mês das empresas.
Estabelecendo a primeira franquia (Studio Fiscal) em 2008, o Grupo Studio se autointitula pioneiro do modelo de franchise contábil no Brasil, responsável pela disseminação dessa nova fórmula de negócios no País. "Quando começamos, o termo 'franquia contábil' nem existia no buscador do Google. Fomos desbravadores desse mercado. Depois da Studio Fiscal, surgiram vários outros negócios similares tentando franquear", lembra o diretor de Marketing do Grupo Studio, Gustavo Fragoso, acrescentando que um dos principais fatores para disseminação desse modelo foi também a capacidade de escalonar a forma de atuação para com a clientela.
Nos serviços de revisão tributária, executados pelo Studio Fiscal e E-fiscal, o trabalho é realizado em cima do êxito, ou seja, o cliente só paga pelo trabalho se houver encontrado irregularidades na questão tributária. E, segundo Fragoso, são esses serviços que têm impulsionado as conversões do Grupo Studio.
De acordo com o diretor de Marketing, a conscientização do empresário, cada vez mais ciente do Custo Brasil, está alavancando o serviço de revisão tributária. Em consonância, a crise financeira também impulsionou a clientela, já que "as empresas pararam de olhar somente venda e começaram a destinar atenção para a redução de custos". Entre os atendidos por franquias da Studio Fiscal estão a rede de supermercados Dia, a Ford, a Volkswagen e o Boticário.
Seguindo o formato em que a empresa matriz centraliza as operações e o franqueado executa apenas a parte comercial, a Grupo Studio tem o valor de investimento mais alto entre as franqueadoras ouvidas pela reportagem, sendo necessário bancar até R$ 120 mil para uma unidade da Studio Fiscal. Esse valor é alto, explica Fragoso, devido à alta rentabilidade do negócio de revisão tributária: "Em média, encontro R$ 600 mil de impostos indevidos pagos pelos meus clientes, e cobro pouco mais de 20% de onerário. Então o meu franqueado ganha, em média, por trabalho, R$ 68 mil. É altamente rentável".
O conglomerado de empresas, porém, aprova apenas 2% dos cerca de 3 mil interessados mensais em abrir uma unidade do grupo. Além disso, concentrar as operações na matriz em Porto Alegre requer um sistema de abastecimento de dados que possibilite o cruzamento de informações entre casos de clientes já atendidos para padronizar o atendimento ao cliente que chega. Em 2013, o Grupo Studio desenvolveu um software no qual foi armazenado todo o know how da empresa, com Inteligência Artificial e algoritmos que promovem o cruzamento de informações. "Se entrar uma indústria amanhã, a empresa já atendeu a várias com as mesmas, então otimiza muito nossa estratégia", ressalta o diretor de Marketing do conglomerado.
O grupo ainda tem franquias no segmento jurídico, além de outros serviços fora da modalidade de franchise.

Perfil do contador 'darfista' dá lugar a profissionais voltados à gestão

Pereira e Cristina dizem que fazer parte de empresa franqueada promove troca de experiências

Pereira e Cristina dizem que fazer parte de empresa franqueada promove troca de experiências


MARCO QUINTANA/JC
Em Porto Alegre, a unidade da NTW Contabilidade e Gestão Empresarial, primeira e maior franquia contábil do País, de acordo com a Associação Brasileira de Franchise (ABF), reúne sócios contadores que saíram de negócios autônomos para investir no modelo de franquias. Cristina Rhoden Bley e Paulo Pereira, sócios da unidade de Porto Alegre, consideram que fazer parte de uma empresa franqueada promove a troca de experiências e ferramentas de trabalho entre os agentes da rede. Porém, de acordo com os sócios, para a transição no modelo de negócios - de autônomo para franqueado -, é necessário também a mudança de mentalidade dos profissionais contábeis: de contadores "darfistas", que são aqueles que passam o dia calculando impostos e preenchendo guias, para profissionais voltados à gestão e à consultoria financeira das empresas.
Pereira, por exemplo, trabalhou mais de três décadas com a contabilidade tradicional, sendo "darfista" em escritórios e também como autônomo. De acordo com o contador, a franquia permite uma visão nítida dos processos da empresa, o que acaba influenciando positivamente no atendimento ao cliente final e na visão empreendedora do franqueado.
A partir da sociedade com a rede de escritórios, Pereira, junto com os demais sócios, teve que pensar no nicho de atuação da unidade em Porto Alegre. Uma demanda da NTW que, durante os 30 anos de carreira, o contador ainda não tinha pensado. "A demanda de uma contabilidade tradicional me impendia de destinar tempo para traçar estratégias de negócio. É o contador empreendedor que terá cada vez mais espaço no mercado", ressalta.
Especializado na gestão contábil e financeira de minimercados da Capital, o escritório opera desde 2016, sendo necessário, para isso, um investimento total de R$ 50 mil. O espaço começou oferecendo a terceirização da folha de pagamento e de demonstrações contábeis, e, logo depois, já expandiu para novos serviços: a unidade começou prestando apenas o serviço contábil, e, atualmente, cerca de 40% de seus clientes também aderiram planejamento financeiro proposto pela equipe da NTW Porto Alegre.
O advogado e técnico contábil Thiago Salla Duro Nunes acredita que o sistema de franquias irá estimular os negócios. Franqueado da Tributarie aposta que, ao fazer parte de um grupo forte de atuação nacional na área em que já atua - tributária e recuperação de créditos - conseguirá transferir aos clientes vantagens como assessoria mais ampla e custos menores, uma vez que, antes da contratação, já saberão os valores que têm a recuperar.
O escritório, na capital gaúcha, foi aberto há 30 dias. Agora, a meta é formar a carteira de clientes no Rio Grande do Sul e, em quatro meses, começar a ter retorno financeiro. Nunes e a equipe trabalham com a proposta de recuperação de créditos tributários para empresas de lucro real, presumido e Simples. Os profissionais acompanham todo o processo junto ao cliente, na recuperação com as compensações na receita e no período pós-compensação pelo prazo de até cinco anos. Toda operação está coberta por um seguro para minimizar qualquer risco.
A Tributarie tem clientes na indústria, no comércio de bens e serviços, em clínicas médicas e hospitais, além de prefeituras. "O grupo fez o projeto-piloto de recuperação de créditos com a prefeitura de Brumadinho, em Minas Gerais, que teve muitas perdas com a catástrofe do rompimento da barragem", conta Nunes.
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