Como tirar projetos do papel em tempos de crise
Empresas como GE, Google e Microsoft vêm adotando a filosofia “lean startup” para desenvolver seus projetos
Grandes empresas brasileiras estão passando por momentos de incerteza e insegurança, o que impacta a rapidez e a autonomia com que os departamentos realizam seus projetos. A reação natural das organizações em meio a este cenário é colocar todos os novos projetos em stand by, principalmente projetos de inovação. Arriscar gastar muito dinheiro em projetos que não possuem retorno garantido parece loucura, olhando sob o ponto de vista financeiro. E as empresas têm um pouco de razão nisso.
No entanto, a inovação — seja em produto, serviço ou processo — é essencial para a sustentação de qualquer empresa no médio prazo e na maioria das vezes necessária para criação de diferencial competitivo no curto prazo. Empresas precisam vender mais, fidelizar clientes ou aumentar suas margens.
O papel de áreas que possuem seu papel atrelado à inovação é muito mais difícil nessa hora — como garantir recursos para projetos que são importantes, mas precisam de tempo para serem validados pelo mercado e por isso são arriscados? O segredo está no jeito que as startups trabalham.
Startups atuam em um ambiente de profunda incerteza. Em primeiro lugar, elas não sabem se alguém precisa do que elas estão oferecendo. Em segundo, não sabem se as pessoas estão dispostas a pagar pelo seu produto. E por último, não sabem se há um mercado grande o suficiente que faça o seu negócio ser sustentável. Startups aprendem desde muito cedo que muito planejamento é o pior inimigo de uma empresa que atua neste cenário — quanto antes seu produto (ou uma parte dele) estiver no mercado, mais rápido as três perguntas acima poderão ser respondidas. O autor Ash Maurya, bastante conhecido no mundo das startups, possui uma frase que virou mantra de empreendedores ao redor do mundo: “a vida é muito curta para construir um produto que ninguém quer usar”.
Alguns produtos hoje muito conhecidos começaram de maneira bastante simples. O Dropbox, sistema de armazenamento e compartilhamento de arquivos, começou como um vídeo que explicava como o produto funcionaria, sem mesmo ter escrito uma linha sequer de código. O vídeo teve grande tração na internet e a partir daí os fundadores concluíram que seria uma boa ideia construir o software. A Zappos, maior e-commerce de sapatos do mundo, começou sem ter nenhum estoque. O e-commerce exibia os produtos, mas quando alguém os comprava, o fundador Tony Hsieh, ia pessoalmente a uma loja física e comprava o produto, enviando para o comprador. Assim ele conseguiu validar se havia realmente demanda para o serviço que estava oferecendo, sem ter que gastar milhares de dólares com um estoque variado de produtos.
Esta abordagem, que é parte essencial da filosofia “lean startup”, faz muito sentido: diminuir o risco de um negócio potencialmente arriscado, validando aos poucos as suas principais hipóteses diretamente com os clientes.
Empresas como GE, Google e Microsoft vêm adotando este tipo de abordagem para desenvolver seus projetos. Existem diversos métodos possíveis para testar o sucesso ou o valor de um produto ou serviço: prototipação, betas privados, landing pages, entre outros. O mais importante é entender o que precisa ser validado e colocar em prática sem prejudicar a experiência do cliente. Não estamos falando de produtos inacabados, com bugs ou mal feitos — muito pelo contrário, a experiência é essencial para que o cliente entenda o valor do produto ou serviço para sua necessidade.
Em tempos de crise, ter respostas rápida do mercado tem muito valor. Esta abordagem não garante necessariamente o sucesso de um projeto, mas evita que muito tempo e dinheiro seja gasto em um projeto que não daria certo.